SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O que poderia ter sido apenas uma provocação restrita à rivalidade de Corinthians e Palmeiras deu origem a uma insatisfação de jogadores de diversas equipes contra a CBF (Confederação Brasileira de Futebol).
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O que poderia ter sido apenas uma provocação restrita à rivalidade de Corinthians e Palmeiras deu origem a uma insatisfação de jogadores de diversas equipes contra a CBF (Confederação Brasileira de Futebol).
Nomes como Neymar e Gabigol, por exemplo, ecoaram uma crítica feita por Memphis Depay sobre a nova regra imposta pela entidade, com a orientação para punir com cartão amarelo quem subir na bola.
O ato foi visto recentemente nos minutos finais da decisão do Campeonato Paulista, quando o holandês usou o recurso para ganhar tempo e segurar um empate sem gols que assegurou o título estadual para o clube do Parque São Jorge sobre o rival verde -o lance provocou uma confusão generalizada, que logo foi controlada pela arbitragem.
Pouco mais de uma semana após o histórico clássico, a CBF anunciou a nova determinação aos árbitros para partidas do Campeonato Brasileiro.
Embora a entidade tenha argumentado que está seguindo uma orientação já presente em competições da Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol), isso não evitou as críticas.
"Vamos nos concentrar em quais regras podem melhorar o esporte e focar no lado comercial do futebol, o que beneficia os clubes, os fãs e os jogadores, em vez desses anúncios bobos", escreveu Depay no X.
As palavras do holandês do Corinthians ganharam espaço em vários veículos estrangeiros. O jornal AS, da Espanha, ironizou a CBF e batizou a regra de Lei-Anti-Memphis. "Punir os protagonistas dessa forma pode dar início a uma disputa com os jogadores mais criativos", escreveu o periódico.
Neymar também se incomodou e disse que o futebol brasileiro tem "muito nhênhênhê" e que está ficando "cada vez mais chato", conforme postou no Instagram o atacante do Santos.
Gabigol aproveitou a onda para criticar o nível da arbitragem no Brasil. Após os diversos erros na segunda rodada do Brasileiro, que provocaram o afastamento dos profissionais que atuaram nos jogos entre Sport x Palmeiras e Internacional x Cruzeiro, o atacante ironizou. "Enquanto isso, a preocupação é subir na bola", postou nas redes sociais o jogador do Cruzeiro.
Ainda que baseada em uma orientação da Conmebol, a regra imposta pela CBF não tem referência direta como uma infração passível de punição no código da IFAB (International Football Association Board), a entidade que gera as normas do futebol. O órgão, contudo, estabelece meios para punir atletas por gestos considerados como "comportamento antidesportivo".
A IFAB também afirma que um tiro livre indireto poderá ser concedido se um jogador "cometer qualquer outra infração não mencionada nas leis, pela qual o jogo seja interrompido".
Historicamente, a entidade fez poucas mudanças nas regras do esporte para coibir lances em que atletas tentam ganhar tempo ou provocar rivais. A mais emblemática nesse sentido talvez tenha sido a proibição de o goleiro pega a bola com a mão após um recuou deliberado de um companheiro.
A regra foi instituída no começo dos anos 90, como forma de evitar a famosa "cera".
Em 2010, por recomendação da Fifa (Federação Internacional de Futebol), um nova regra para cobranças de pênalti também alterou a dinâmica dos jogos. Naquele ano, a entidade passou a proibir as "paradinhas" durante as penalidades.
De acordo com a norma, os jogadores não poderiam mais ameaçar chutar a bola uma vez que tenham completado a corrida. A infração é considerada um ato antidesportivo e, assim como subir na bola, deve ser punida com cartão amarelo.
Embora enquadrados da mesma forma, a "paradinha" e o recurso de subir na bola são vistos de maneiras diferentes pelos boleiros. Rivaldo, de vitoriosa carreira com as camisas de Palmeiras, Barcelona, Milan e seleção brasileira, concorda com a proibição relacionada ao pênalti, mas discorda da regra sobre subir na bola.
"Essas jogadas fazem parte da essência do nosso futebol, da nossa cultura. São sinais de técnica, talento, personalidade. O que a CBF está tentando fazer agora é limitar justamente o que nos diferencia no cenário mundial", afirmou o ex-jogador, campeão do mundo com a seleção em 2002 e, atualmente.
Para ele, a regra para os pênaltis ajustou uma desigualdade de forças entre o batedor e o goleiro.
"O cobrador já tem uma grande vantagem nos pênaltis, com quase 80% de chances de fazer o gol. Com a paradinha, essa diferença ficava ainda mais injusta", opinou.
Isso, na opinião do ex-atleta, é bem diferente de tentar limitar recursos como subir na bola. "Estão querendo transformar o futebol em algo engessado, sem graça, tirando a arte de campo."